Svadhyaya!
Quem leu o conteúdo da semana passada, sabe que fiquei devendo falar sobre um dos Niyamas nos meus textos. Então conforme prometido, trago como tema hoje o quarto dos Niyamas – Svadhyaya.
A palavra (em sânscrito) em si, é composta de Sva , que significa próprio, Eu e Adhyaya , que significa lição, palestra ou leitura, e pode implicar a prática de estudar as escrituras, bem como a prática de estudar o Eu.
Svadhyaya, portanto, pode ser traduzido como auto-reflexão, ou autoestudo. Essa introspecção pode ser compreendida de maneira tradicional, como descrito por Patanjali; ou pode ser trazida para a atualidade com uma interpretação mais moderna.
Nos textos sobre Yoga, quando vemos a palavra “eu” escrita com um letras minúsculas somente, ela se refere a nós mesmos na forma física, no ego e nos papéis que interpretamos cotidianamente. Quando lemos a palavra ‘Eu’ com um ‘E’ maiúsculo, ela está se referindo ao eu verdadeiro, ao divino dentro de nós.
Então, o que para nós, ocidentais da atualidade, pode ser interpretado como auto-ajuda ou psicanálise, originalmente se refere ao conhecimento desse Eu verdadeiro que está ignorado e soterrado pelos papéis do ego.
É certo que observar seu corpo e emoções durante uma prática de asanas ou até mesmo fazer terapia faz parte de um auto-estudo. Durante a prática, surgem a dor e o desconforto. Neste momento, examinar as sutilezas dessas sensações e entender a “dor ruim”, aquela que te leva para uma lesão, ou a “dor boa” ou desconforto moderado, que te proporcionam a liberação de tensão e emoções acumuladas, é o que diferencia uma prática de posturas psicofísicas de uma simples atividade física.
Além de transformar a prática em algo maior do que uma simples ginástica, a observação da nossa reação ao sairmos da zona de conforto e enfrentarmos situações desafiadoras nos permite identificar as tendências naturais do nosso ego. Fugir de uma postura desafiadora ou se exigir demais são reações normalmente carregadas para fora do tapete em situações de conflito.
O “eu” está preocupado principalmente com a sobrevivência, o que geralmente implica em conseguir o que quer em todas as situações, ou, conforto. Na contramão, queremos provar que somos de fato “o melhor” nos exigindo demais. Esse “eu” julga, critica, sucumbe ao medos, condições e dúvidas e é causador das flutuações da mente.
Patanjali propõe um método para se conhecer este “Eu” através da desidentificação com o que não somos – tudo que é o “eu”. Retirando essas camadas para entender o que fica no final.
E como sabemos o que não somos?
Quando estamos tão identificados com o ego, sentar-se em meditação ou praticar asanas por si só não traz a clareza necessária para uma nova visão de si.
É preciso buscar esse conhecimento nas escrituras sagradas. Nossa mente não consegue compreender a totalidade da consciência universal, então, os vedas nos apresentam aos aspectos do Todo.
“svādhyāyāt-iṣṭa-devatā-saṁprayogaḥ” – Yoga Sutras de Patanjali 2.44 – Segundo Gloria Arieira, O estudo dos Vedas conduz a compreensão da identidade do indivíduo com o Todo e leva A perceção de que o Criador é a causa e a manifestação do universo – que inclui você.
Por isso, quando Patanjali fala sobre auto estudo, ele não se refere a terapia ou as observações de suas sensações ao longo de uma prática de asanas. Ele se refere a sua busca de informações, como um guia, que te proporcione o conhecimento de que somos todos um. Conhecimento sobre a consciência universal para que possamos caminhar da consciência individual em direção a essa união. Afinal, Yoga É união.
Esse caminho passa através da limpeza das flutuações mentais provocadas pelo ego, utilizando-se, sim, as técnicas físicas e mentais do Yoga.
O conceito de svadhyaya então, refere-se a qualquer atividade em que nos estudamos silenciosamente e refletimos sobre nossas ações, pensamentos, emoções e necessidades em busca de uma experiência mais profunda.
Não somente ler as escrituras e nem apenas praticar asanas, meditação e pranayamas, o conhecimento do Eu vem na integração de todas as ferramentas disponíveis, quando usadas para este objetivo.
Namastê!
Texto muito, muito bom!!!