Liberdade de Expressão – Podcast #29
Liberdade de expressão é um assunto bem mais complexo do que eu conseguia imaginar.
Links
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Grupo do Facebook – Conhecendo o Yoga a Fundo
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Paganini
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Trilha Sonora da série, Reflexões de um YogIN Contemporâneo
Liberdade e expressão – Podcast #29
Olá, o meu nome é Daniel De Nardi, essa é Hilary Hahn interpretando uma música de Paganini. Esse é o 29º episódio de “Reflexões de um YogIN Contemporâneo”.
Acho que dentro de todos os episódios, eu sempre acabei concluindo o tema trazido, hoje não irei concluir, o tema ficará aberto para reflexão de cada um. É sobre a liberdade de expressão.
Este tema é bem delicado e atual, por conta dos acontecimentos que ocorreram nos Estados Unidos recentemente, em Charlottesville, onde ouve um embate de dois grupos supremacistas (negros e brancos) defendendo a ideia de que existe uma raça superior. O triste episódio ocorrido no EUA é de um nível tribal, como se o ser humano não tivesse compreendido nada no decorrer do tempo, sendo que como é possível determinar uma raça superior por uma questão geográfica? Por ter nascido em determinado local se seria superior? Isso vai contra tudo o que a ciência tem descoberto e que a filosofia ou as religiões acabam observando também, a gente vê no caso do yoga que o Purusha, que é a essência, está dentro de cada um, então não teria como existir uma raça superior, uma vez que todo mundo tem dentro de si, não é distinto de acordo com o local e época de nascimento. Essa essência está dentro de cada um e é o papel de cada um deixar vir, trazer, despertar.
Esse assunto, que acabou criando esse embate nos EUA, é fruto de uma outra discussão que é a liberdade de expressão. Como eu disse, a liberdade de expressão é um assunto muito delicado, é necessário um estímulo dela, há uma vantagem nos ambientes em que a liberdade de expressão é possível ser explorada e, então, surgem ideias novas, surgem soluções diferentes, isso é muito visto nos locais que são abertos para as ideias em que há o desenvolvimento da sociedade muito maior do que nos locais em que todas as ideias novas são castradas e obstruídas, ficando atrás em relação ao desenvolvimento da sociedade como um todo. Por outro lado, a liberdade de expressão nos dá acesso a ideias como a de grupos extremistas como o nazismo ou qualquer outo grupo que de intitule superior racialmente. Usando como pretexto a liberdade de expressão, fala-se sobre o nazismo ou qualquer outro grupo excludente. No Brasil e em outros países, como a Alemanha, isto é proibido, não se pode criar grupos nazistas, enquanto nos EUA pode. Há leis diferentes de acordo com o entendimento de cada país com a questão.
Nos EUA se parte do pressuposto de que o debate pode ocorrer desde que ele não se torne em uma ação prejudicial a alguém, no caso, como vimos, teve mortes e isso é em uma escala macro, com consequências enormes. Numa escala micro, o debate e a liberdade de expressão está em várias áreas da nossa vida. Recentemente a gente teve um caso bastante interessante com o nosso grupo de yoga no Facebook, um grupo de discussão chamado “Conhecendo o Yoga a fundo”, sempre foi um grupo em que as pessoas expuseram as ideias, havia alguma discordância, mas existia uma harmonia no grupo, até qganadosue dois integrantes o grupo começaram a atacar e falar de forma mais agressiva, alegando que os participantes do grupo estavam sendo enganados e que eles detinham a verdade sobre o que era o yoga verdadeiro. A gente tem uma dificuldade em relação ao yoga porque diferentemente de outras regiões, como Roma e Grécia que se preocupavam em data, no yoga e no hinduísmo como um todo não há essa preocupação, os textos não possuem datações. E naquela discussão do grupo no Facebook, um dos participantes se diz ser de uma tradição que antecede o yoga de Patanjali, a dos Nathas, então, segundo ele, quem teria a verdade seria os Nathas, no extremo do conhecimento acaba-se chegando num limite de fé, como neste caso. Porque se há uma história que foi contada, que seria primeiro os Vedas, depois as Upanishads, depois o começo do Tantra no século III ou IV e que vai se desenvolvendo de acordo com a dinastia Gupta.
Os detentores da tradição Natha dizem que ela é anterior a Patanjali, que o que Patanjali escreveu seria consequência dessa sabedoria e aí há essa postura de um dos participantes de se colocar como alguém que sabe de algo e os outros como os ludibriados. É um pouco complicado porque, como eu falei, se restringe apenas uma visão e temos que respeitar, mas cada um deve olhar pra si e ver o que mais faz sentido dentro deste quebra-cabeça, dentro das evidências mais fortes que conseguimos construir uma verdade.
Não vi totalmente o debate, como chegaram algumas reclamações acabei dando uma olhada e identifiquei esse ponto limítrofe que esbarra na fé, mas isso não acontece somente na parte histórica, mas na ciência também. O fato de eu não ter participado do debate é pelo fato de eu estar escrevendo o terceiro livro de uma série de cinco que irei publicar, este livro trata de um assunto que acaba se aproximando dessa discussão, uma ala da ciência que tenta provar que os pensamentos são apenas reflexos de uma série e estímulos anteriores no cérebro. Então a gente tem uma ideia que surge, um pensamento, que acaba gerando uma descarga ou influenciando o cérebro. Esta área da ciência, chamada de Fisicalismo, tenta provar o contrário, que no fundo tudo é consequência de estímulos cerebrais, que não temos o controle sobre esses estímulos, o que a gente tem é apenas uma justificativa consciente, o que a gente faz é uma decisão a priori com impulsos nervosos e liberações endócrinas.
É um assunto bastante delicado, mas que se esbarra na questão da fé ou de reconhecimento de evidências, então existe de fato uma consciência que seria o que comanda ou simplesmente é uma enganação do tipo de estimulo que os pensamentos geram que nos dão a impressão de que a gente percebe algo antes, mas no fundo tudo acontece no nosso cérebro, sem nenhum livre arbítrio efetivo nosso.
Então chega nesse ponto que é a fé, uma questão de opinião baseada numa crença, porque como se saber qual tradição veio antes ou como saber se existe tal percepção por trás, vai sendo da evidência de cada um. O ponto é que se deve liberar a discussão sobre os diferentes assuntos, tem que estimular, mas daí vem o outro lado porque na vida a gente nunca tem o ganho dos dois lados. Estamos passando agora pela era da comunicação, dos smartphones, que é interessante, a gente fala com todo mundo a na hora que em entende, mas há de convir que o mundo como um todo está ficando aparentemente mais “retardado”, com todos concentrados em seus aparelhos. Então sempre tem um lado que ganha, outro que perde.
No caso da liberdade de expressão temos risco no que aconteceu nos Estados Unidos e no nosso grupo o que acaba acontecendo é que pode-se até criar fakes para mostrar ter receber apoio, e quando há pessoas te apoiando já é muita coisa. O que é complicado porque o interesse de quem faz isso pode ser financeiro, comercial. O fato é que esta pessoa teria mais tempo para trabalhar e desenvolver as ideias, o que acaba desestimulando as pessoas que se dispunham a fazer um debate mais tranquilo, que passam a se sentir desmotivadas pelo tipo de comportamento agressivo de um integrante. É uma situação delicada, o que fazer? Censurar, retirar a pessoa do grupo? Ou não, vai tentar fazer com que ela se adeque, mas enfim…Como eu disse no início, este episódio não terá uma conclusão, apenas um ponto de vista e como a liberdade de expressão tem as duas facetas e como, no geral, as duas tem em todas as coisas da nossa vida, as mudanças sempre trazem os dois lado, sempre uma ambivalência, um ganha e um perde, é isso que eu quero dizer.
Pra finalizar vou deixar a música completa do Paganini, quem estiver assistindo pelo App conseguirá ver as imagens da violinista Hilary Hahn tocando Paganini que foi um violinista e compositor do século XVIII (1772 a 1840), ele tinha um virtuosismo, tocava acima dos outros, de uma forma que ninguém conseguia tocar, por esta razão foi considerado ter pacto com o diabo. Vou deixar com vocês a Caprice 24 que, em sua época, era o único que consegui tocar, mesmo não sendo uma das músicas mais lindas é das mais difíceis de tocar.
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