Identificando nossos ciclos de aprendizado
É sabido que nós passamos por ciclos ao longo do nosso amadurecimento. Temos a infância, temos a adolescência, fase adulta, velhice. Porém, dentro de cada destas fases, passamos por momentos que acarretam para uma série de transformações profundas na nossa vida. Não falo de coisas da rotina e sim de situações que acontecem para nos fazer experienciar os aprendizados que precisamos.
Estudos dizem que estes ciclos são sentidos de 7 em 7 anos. Talvez por isso este número também seja considerado meio azarão, mas se formos fazer uma retrospectiva pela nossa vida, de sete em sete anos é possível mesmo identificar momentos que se tornaram relevantes por algum tipo de escolha ou direção que tomamos.
Quando crianças fica mais difícil analisar isso, pois estamos num fluxo natural de absorção e assimilação de tudo o que o mundo tem para nos ensinar. De tudo o que nossos pais representam na formação de nossos valores e caráter, e também de como nos guiamos através deles como espelhos.
Porém, a partir dos sete anos, a mesma criança passa a se manifestar diante de sua individualidade de forma mais impositiva. E nos sete anos que se seguem até a entrada da puberdade vem as mudanças no corpo e na percepção de mundo. É nesta fase que vamos desenvolvendo nossas reais habilidades e demonstrando nossos verdadeiros desejos. Como se estivéssemos saindo do casulo para nos tornar a borboleta que quer alçar vôos mais altos, enxergando o mundo sob outra perspectiva.
Depois da fase da adolescência, os próximos sete anos nos levam aos 21. Os vinte e um representam a emancipação. É quase como quando o mundo nos diz (pelo menos aqui no Ocidente, ok?): agora é com você! Sabemos que se houver necessidade, nossa base maior que é a família, estará sempre ali (em sua maioria) para apoiar e contribuir no que for necessário. Mas, se alguma de suas escolhas te levar a lugares que você não esperava ir ou se te trouxerem resultados que não eram os que você gostaria, esta responsabilidade é só sua.
Outro ponto relevante é que mesmo sendo de sete em sete anos, não significa necessariamente que você perceberá de forma assim precisa (7, 14, 21, 28 etc), muitas vezes algo fica marcado numa determinada idade e dali para frente é possível observar os anos que se seguem e perceber que após os sete, outro marco será sentido novamente. Resolvi focar nesse tema pois somos muitos ingratos com como estes ciclos muitas vezes nos são apresentados pela vida.
Vou dar um exemplo do que aconteceu comigo e que talvez você leitor se identifique e compreenda melhor onde quero chegar. Em 2010 a minha vida profissional e pessoal me parecia estagnada. Eu me sentia sem motivação, sugada pela rotina, cansada de viver os dias sem uma emoção maior. Trabalhava numa instituição que me possibilitava trabalhar em outros lugares do mundo, fazendo uma transferência de forma mais simples do que as habituais. Resolvi que queria ir embora do Brasil por um tempo e assim foi.
Desta simples decisão até os anos que se seguiram muita, mas muita coisa mesmo, aconteceu. Eu fui para Portugal, fiquei lá muito menos tempo do que queria. Voltei pro Brasil, mas indo direto para outro Estado (sou nascida em SP). Cheguei com praticamente zero em dinheiro para re-iniciar a vida. Corri atrás, trabalhei muito mais do que já trabalhava. Abri mão do conforto, das facilidades que tinha quando estava na minha cidade natal e próximo da minha família, passei por tristezas e questionamentos profundos, incertezas e medos constantes. Acabei casando. Indo morar em outra cidade de novo, e me vi em outro recomeço, ainda mais difícil! Outro início, outra luta. Uma busca por me reencontrar, por entender porque me sentia mergulhando tão profundo em mudanças, que de certa forma não me representavam. Por vezes me identificava e achava que gostava de tudo o que estava vivendo, e outras sentia uma insatisfação enorme, sem entender porquê.
Pois bem, esta última mudança teve fim em 2017, quando após muitas descobertas, mudanças, incertezas, dores, ganhos e perdas, resolvi voltar da onde tinha saído em 2010. Entenda, nestes sete anos que se passaram eu cheguei a me ver num poço bem fundo, tendo que me agarrar em cordas imaginárias buscando subir dali, com bem poucas forças. Quem via ao longe, observava apenas a representação da mulher forte, da guerreira, daquela que encarava desafios constante, saindo-se por cima. Mas as coisas não são bem assim nos bastidores. E ali, por detrás das cortinas deste grande palco que se chama vida, vivi os meus anos de maiores aprendizados. Ensinamentos que só mesmo as nossas escolhas nos dão. E sem dúvida é aí que te digo onde o Yoga entrou nisso tudo!
Ter o Yoga como o meu guia, a minha prática, o meu lifestyle, fez eu entender que nem tudo na nossa evolução pessoal serão flores. Que os maiores desafios acontecem para que consigamos entender de fato, por exemplo, o sentido dos yamas e nyamas de Patáñjali. Não foi sem propósitos reais que este sábio, por volta do século III a.C, pontuou preceitos éticos e morais que precisam ser observados antes de uma pessoa querer travar contato com as técnicas do Yoga.
Que sentido teria focar em respirar melhor, em estabilizar o corpo num pé só, ficar de ponta cabeça, se nem conseguimos passar pelos obstáculos em busca da auto-superação (tapas)? Ou se extrair contentamento (santôsha) de todas as situações parece impossível? O que dirá entender o que tudo isso pode contribuir com nosso auto-estudo (swadhyaya)? E imaginar tudo o que fui abrindo mão em cada momento de mudança que aconteceu nos sete anos? É desapego (aparigraha) que chama não? Até então tudo me parecia perfeitamente compreensível, enquanto estava teoricamente explicado. Passar na prática, me fazendo experienciar estes ensinamentos, me fez também entender seu contexto real e sua necessidade para nos tornarmos verdadeiros yogíns.
E não, não posso culpar ninguém e nem nada do que escolhi viver ao longo desse processo. Entendo que este foi o meu karma, e que através da lei natural de ação e reação, eu não vivi nada daquilo que não tivesse sido buscado por mim.
O que eu posso afirmar é que re-signifiquei minhas experiências. Enquanto imersa naquele processo tudo parecia pior do que foi realmente. E isso acontece por estarmos dentro de uma bolha de emoções, das quais não temos consciência. Só percebemos o quanto estes sentimentos são passageiros quando conseguimos nos afastar desta redoma nociva de sentimentos pesados e os aceitamos como parte do que temos que viver. E que nem a pior dor que sentimos, durará para sempre!
Vale ressaltar também que, a partir do momento em que se consegue identificar o ciclo, percebemos também que trata-se de um processo de aprendizados necessários. Portanto, tire proveito da fase e aprenda realmente o que a vida esta querendo te mostrar Pois se isso não acontecer, é provável que as mesmas coisas se repitam num futuro próximo.
Hoje percebo que, a maturidade adquirida com as experiências me permitem dizer não ao que eu não quero viver de novo e também transformar aquilo que quero experienciar novamente, só que de outra maneira. Temos este poder! Ele se chama livre arbítrio. É a sua liberdade de ir para onde quiser. Com toda a consciência de que as consequências e a responsabilidade de suas escolhas são apenas suas! Olha o karma aí de novo.
Vejo muita gente se lamentando, sofrendo, desistindo da vida, reclamando por tão pouco, quando há tanta gente com motivos reais e pesados e que seguem firmes e fortes. Vamos exercer mais a gratidão com nossos ciclos dos sete?
Agora que você leu até aqui, observe o seu momento. Você esta passando por uma fase difícil? Há quanto tempo sente que as coisas estão assim? Faça as contas de verdade. Não que as coisas não possam mudar do dia pra noite; ou que você não possa quebrar o ciclo com uma nova atitude mental e emocional. Mas se te parece difícil, não tenha pressa. Absorva o máximo de entendimento do momento, permita-se compreender aquilo pelo qual está passando, desfrute das lições e tenha paciência, vai passar!
E se está numa fase boa, melhor ainda, oras. Fique ainda mais feliz. Prolongue os sete por mais sete nesta mesma energia, nesta mesma vibração. Por que não? Depois de estarmos mais conscientes do processo, escolher seguir mal ou escolher seguir bem também são escolhas, não é mesmo? Lembre: livre arbítrio. A escolha é sempre nossa! E se vale a dica, curta os seus ciclos.
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