De Peito Aberto
Dentre todos os tipos de posturas existentes na prática de Yoga, em todos os níveis de dificuldade, as retroflexões são as que mais geram desconforto. É impressionante a quantidade de caretas que observo, como professora, no momento do retorno.
Não provocando o medo racional como acontece, por exemplo, com as invertidas, os praticantes, a princípio, sentem-se encorajados a executar as retroflexões propostas pelo professor. Às vezes, até podem parecer fáceis visualmente, mas no momento que eles se deparam com o peito aberto e “exposto” é que percebem que independente do nível de dificuldade da postura, da intensidade da retroflexão e da flexibilidade da coluna, o maior desafio a vencer é emocional.
Esse desconforto é provocado pelo desconhecimento desse movimento de abertura. É um movimento estranho ao nosso corpo, podendo parecer até mesmo antinatural e com certeza nada familiar.
Da mesma forma que enrijecemos nossos quadris ao longo da vida com a nossa resposta ao instinto de fuga, também fechamos nosso peito. Se você ainda não leu, falei sobre as emoçoes armazenadas no quadril aqui https://yoginapp.com/para-soltar-o-proximo-passo/#axzz5hudVe6Bc
A mesma postura de proteção ao perigo, curvando-se para frente e puxando as pernas de encontro ao peito, que torna nosso quadril rígido, também bloqueia nossa coragem de se entregar, curva nossos ombros para frente protegendo o peito.
Ao longo da vida, os traumas, rejeições e inseguranças que passamos vão transformando nossa postura em uma armadura.
Além disso, não há atividades no nosso dia a dia que estimulem a retroflexão. Passamos nossos dias curvados e encolhidos no computador, no carro ou até mesmo na bicicleta. Assim vão se acumulando cada vez mais emoções em nosso corpo.
Em nível físico, a retroflexão da coluna abre ombros e o peito, liberando tensão; alongando os flexores do quadril e aumentando a força nas pernas, braços e músculos das costas e a mobilidade na coluna ajudando a neutralizar os danos da má postura.
Analisando pelo corpo energético, a postura trabalha e ativa nosso anahata chakra, o chakra cardíaco, onde reside nosso verdadeiro Eu e onde a compaixão e o amor se manifestam. Insegurança e ansiedade contribuem para um desequilíbrio deste chakra.
Então você chega na sua aula de yoga e, de repente, você executa uma abertura de peito que te provoca sensações estranhas. Você faz careta, reclama, evita expor tanto o esterno na próxima vez ou até mesmo foge das aulas. Respostas de medo naturais ao enfrentar o desafio de lidar com toda essa emoção armazenada bloqueando seu Eu.
E é realmente assustador se abrir profundamente e descobrir o que está escondido sob a superfície. Partes de você que não estão conscientes são reveladas.
As retroflexões ativam o sistema nervoso, provocando uma sensação de alerta e até mesmo tensão. Com o peito exposto, emoções prontas para serem liberadas e o sistema nervoso informando situação de perigo ao seu corpo, tudo que você quer é fugir.
Mas para que o trabalho do Yoga aconteça é necessário limpar essas camadas de proteção.
As retroflexões do Yoga oferecem a oportunidade de limpar esse caminho através de desafios físicos e mentais. Exigindo coragem e entrega, em níveis físicos e emocionais, a insegurança e o medo são vencidos.
Observe se seu medo de subir em Urdhva Danurasana, o arco completo, é somente por achar que não suporta o peso nas mãos. Já ouvi essa justificativa de pessoas bem fortes mas que não se sentiam capazes de tentar.
Se você sente ansiedade, tristeza, angústia ou dor física quando pratica retroflexões, o segredo é aprender a lidar com a dificuldade. Foco no momento presente e na respiração (especialmente na respiração), não dê importância às emoções que afloram. Se permita sentir se for necessário, mas não entregue o controle a estas emoções.
A tendência natural do ser humano é fugir quando as coisas ficam difíceis. O grande aprendizado da prática de Yoga é encontrar o seu caminho através de quaisquer obstáculos que possam surgir em sua experiência de vida. E não há caminho sem obstáculos.
É preciso coragem para permanecer aberto quando a vida nos dá razões para fechar, mas lembre-se que o arco-íris surge após uma tempestade. E, enquanto isso, banhe-se de chuva.
Namastê!
fÊ, amei seu texto!